Cresci à beira de um rio, onde descobri que navegar era uma coisa fantástica, mesmo que fosse numa velha canoa fazendo água e que eu nem soubesse ainda muito bem o que era navegar.
Foi assim, portanto, numa rústica deriva cheia de furos, lá pelos idos de minha infância ribeirinha, que fiz meu primeiro contato com embarcações. Perigosamente, é verdade. Mas como valeu o risco! Aquele deslizar quase sem ruídos, apenas um doce marulhar do casco partindo as águas, ficou em minha lembrança pela vida afora. Foi também decisivo em minha opção pelo barco à vela.
E aqui (inevitável parêntese), como não sou escritor nem poeta, ouso transcrever a poesia em prosa de quem, mais do que eu, manteve estreita ligação com essa ninfa das águas, a canoa:
“Não
resisti e fui ter com ela.
E, desde a hora em que deitei os olhos em suas doces
curvas,
Não descansei mais até que fosse minha”. (Amyr Klink, em “Cem Dias Entre Céu e Mar”).
Amyr fala de Rosa, “linda e encantadora canoa de nobre madeira, o cauli”, que comprara a um velho pescador e foi sua dileta companheira em memoráveis aventuras. Foi logo numa espécie mais sofisticada de canoa, com habitáculo e equipamentos de navegação, o Paraty (ou a Paraty?) que Klink realizou sua mais fantástica aventura, cruzando o Atlântico a remos.